
Rui Duarte Silva
Festivais reagem ao desconfinamento. “Talvez se possam fazer os festivais de agosto” mas será preciso adaptá-los
12.03.2021 às 19h48
Conhecidas as linhas gerais do desconfinamento, apresentadas esta quinta-feira pelo Governo, mas não os detalhes de como a retoma será possível nos festivais de verão, os promotores reagem com cautela, afirmam que vão continuar a “trabalhar na incerteza” e estão dispostos a esperar, no máximo, até maio
Depois de o Governo anunciar, esta quinta-feira, as linhas gerais do desconfinamento gradual que se processa a partir da próxima segunda-feira, 15 de março, os promotores de dois festivais de música marcados para agosto, o EDP Vilar de Mouros e o Vodafone Paredes de Coura, falaram à BLITZ, mostrando cautela.
Segundo o que foi avançado neste plano, as salas de espetáculos podem abrir a 19 de abril, mas apenas até às 21h durante a semana e até às 13h ao fim de semana e nos feriados. Quanto aos "grandes eventos", regressam a partir de 3 de maio, com limitações de lotação definidas pela DGS.
"Tenho esperança que vamos poder trabalhar", afirma Paulo Ventura, organizador do EDP Vilar de Mouros, marcado para os dias 26, 27 e 28 de agosto. "No ano passado conseguimos trabalhar um bocadinho, eventualmente este verão vamos conseguir trabalhar mais um bocadinho... mas nós não queremos bocadinhos, queremos é soluções e prazos para podermos trabalhar."
Paulo Ventura não acredita que a expressão "grandes eventos", incluída no plano de desconfinamento, se refira necessariamente aos festivais de verão. "Posso estar enganado, mas acho que a expressão 'grandes eventos' não se refere a festivais nem tão pouco a eventos culturais, mas sim à Fórmula 1 ou ao Moto GP. Os grandes eventos devem ser, também, os [jogos de futebol]. Além de que dizem que os eventos regressam, mas não dizem que vão ter público", alerta o promotor.
João Carvalho, diretor do Vodafone Paredes de Coura, partilha do mesmo otimismo cauteloso. "[Estas medidas] são uma luz ao fundo do túnel. Eu estou crente que se possam fazer os festivais do mês de agosto. Agora falta perceber quais as indicações [para que isso aconteça] e quais os apoios para o setor, com rigor. [Falou-se de] um pacote de medidas, mas sem grandes pormenores."
O responsável pelo festival marcado para o período de 18 a 21 de agosto garante que continua a confirmar bandas e a pôr "toda a estrutura a funcionar", apesar de saber que a realização ou não de Paredes de Coura depende da evolução da pandemia não só a nível nacional como internacional.
"[Na Europa] há notícias de eventos de junho e de julho que estão a passar para agosto, porque se pensa que em agosto já se pode fazer. Mas se me perguntarem: vai ser permitido o campismo no mês de agosto? Não sei nem acredito que haja alguém que saiba neste momento. É continuar a trabalhar na incerteza", resume.
Apesar de estar "descontraído" no que toca a prazos ("Se há coisa que a covid trouxe às pessoas foi paciência: tanto aos patrocinadores como aos agentes, às bandas e às empresas"), João Carvalho diz que a espera pode aguentar "mais dois meses. No fim de maio tenho de ter certezas absolutas do que vai acontecer", diz, não pondo de parte a possibilidade de adaptar o formato do festival.
Paulo Ventura pensa de forma semelhante quanto ao futuro próximo de Vilar de Mouros, lembrando que o cartaz do festival mais antigo de Portugal depende da realização, ou não, dos festivais europeus e da disponibilidade das bandas estrangeiras. Porém, soluções alternativas são possíveis. "Queremos muito fazer o festival. Ainda temos os artistas que anunciámos, mas isso pode mudar de um dia para o outro. Não temos forma de fazer o festival com 30% ou 40% da lotação, e não acredito que este ano seja possível fazê-lo com a lotação total. Se não houver festivais lá fora e eu não tiver [disponíveis] os artistas internacionais que tenho confirmados, mas se me permitirem fazer o festival com 70% ou 80% da lotação, ponderaria atempadamente fazer o festival com artistas portugueses", admite. "Mas por atempadamente quero dizer que precisava de saber no final de abril, no limite [o que posso fazer]. Acredito que podíamos fazer um festival interessante com artistas portugueses, se eles quisessem lá ir. E ficávamos muito contentes se pudéssemos fazê-lo."
Quanto à realização de eventos-testes, com testes rápidos à porta, Paulo Ventura considera que é uma possibilidade "importante. Mas mais importante é haver planeamento e esclarecimento em relação àquilo que se pretende."
À BLITZ, Luís Pardelha, da APEFE (Associação de Produtores de Espetáculos, Festivais e Eventos), remeteu para mais tarde um comentário quanto ao desconfinamento do setor dos espetáculos. "Enquanto não for publicada a portaria que pormenoriza as medidas, nomeadamente as restrições de horários e lotações, não podemos comentar. Aguardamos que a portaria seja publicada para avaliarmos."
Contactado pela BLITZ, Luís Montez, diretor da Música no Coração, responsável pelos festivais MEO Sudoeste, Super Bock Super Rock e Sumol Summer Fest, declinou prestar declarações. Álvaro Covões, do NOS Alive, esteve incontactável até ao momento da publicação deste artigo.
Até ao momento, foram canceladas as edições deste ano do NOS rimavera Sound, no Porto, e do Rock in Rio Lisboa, que se realizariam em junho. Os restantes grandes festivais continuam marcados.
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