
Roberta Medina
Rita Carmo
Roberta Medina: “Desejo que outros festivais ainda possam acontecer, mas tenho algumas dúvidas que os grandes consigam”
06.03.2021 às 9h45
Roberta Medina, vice-presidente do festival Rock in Rio, cuja edição de 2021 foi adiada para 2022, acredita que, “no mínimo”, o próximo verão será igual ao do ano passado no que à música ao vivo diz respeito. “Tomara que sim, que ainda se faça alguma festa”, diz a empresária, que encara a possibilidade de “eventos de menor porte” se poderem realizar
Apesar de se ter visto obrigada a adiar a nona edição do Rock in Rio-Lisboa de 2021 para 2022, à semelhança do que já tinha acontecido no ano passado, Roberta Medina acredita que o país ainda vai poder assistir este verão a alguns espetáculos de menor envergadura. “Desejo que outros festivais ainda possam acontecer, mas tenho algumas dúvidas que os grandes consigam”, diz à BLITZ a vice-presidente do Rock in Rio, “talvez com quedas de line-up, com algumas alterações, mas tomara que sim, que ainda se faça alguma festa. Tenho convicção que eventos de menor porte vão acontecer. É fundamental fazer coisas, seja lá em que formato e com que condicionantes forem, precisamos de voltar a vibrar e a estarmos juntos. Os números já baixaram muito, ao mesmo tempo que a vacinação vai avançando, e espero que comecemos a ter boas notícias”.
“Uma vez que o plano de vacinação aponta para a imunidade de grupo em setembro, final de agosto, pode ser que tenhamos um susto bom”, acrescenta, “imaginemos que a produção de vacinas acelera, que chegam mais rápido. A questão aí vai estar sempre no tempo que o promotor pode esperar para ver se dá [para montar o seu festival]”. Medina assume, no entanto, que ainda há muitas incertezas, “se achássemos com 100% de certeza que ia ser possível, estaríamos a confirmar o Rock in Rio e não a adiar, mas hoje ainda é difícil ter essa clareza. De qualquer forma, no que pudermos contribuir e trabalhar para que ainda haja festivais, estamos juntos”.
A vice-presidente do Rock in Rio recorda que nos eventos culturais que se realizaram em período de pandemia, com distanciamento social, no ano passado, não houve registos de “nenhum caso de contaminação”. “Podíamos abrir as salas com menos distanciamento para tornar a coisa mais viável”, sugere, “no mínimo, a situação será igual à do ano passado. Disso não tenho a menor dúvida. Quero acreditar que as coisas vão começar a retomar ainda antes do verão. Não sabemos como vai ser abril, mas pelo menos a partir de maio espero que os eventos de sala já estejam pelo menos nos 50% de lotação, mas idealmente com mais”.
“A nossa preocupação é que ainda falta uma consciência grande, da parte da população, de que a cultura e o entretenimento não são apenas diversão. Há um papel social que a cultura, o entretenimento e o próprio desporto têm, um papel na saúde, no desenvolvimento pessoal e no desenvolvimento físico, inclusivamente”, alerta, “há vários estudos que falam disso, mas a população ainda acha que é supérfluo. E isso reflete-se, depois, na posição do governo. Se a população não cobra... Quando começámos esta discussão, achei que naturalmente a falta de acesso à cultura e a falta dos eventos, da música, fosse trazer essa consciência, fosse valorizar efetivamente o setor. E isso não aconteceu. Quando as pessoas depois quiserem diversão, acham que basta carregar no botão e tudo volta. Mas não volta. E se as empresas não estiverem aí? Temos pela frente um trabalho grande em termos de valorização real do setor”.
Não foi só a edição de Lisboa do Rock in Rio que passou para 2022, também não haverá festival no Rio de Janeiro este ano. Se em Portugal, o evento decorreria em junho, na cidade brasileira só teria início no final de setembro, mas Medina acredita que a decisão não poderia ser outra. “Como é que num cenário de tanta incerteza, conseguimos vender ingressos e comunicar? É por isso que o Rock in Rio no Brasi, com muito mais antecedência, está a tomar uma decisão agora”, explica, “tem muito a ver com as características de montagem, com o tempo de produção. São cenários muito diferentes, então, cada país e cada situação é uma situação. E é muito importante que elas sejam tratadas de forma individual”. Tomando como exemplo os cancelamentos das edições deste ano dos festivais de Glastonbury e Coachella, Medina diz que no Brasil o mercado estava de olhos postos no Rock in Rio. “Tivemos muito cuidado na forma como comunicámos, porque sabíamos que os grandes eventos estavam todos a ver o que íamos decidir”.
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