
Carolina Deslandes, Hélio Morais, Diogo Piçarra
“2021 é pedir um vestido de cauda pela net e chegar uma peúga usada e rota, três números acima”
14.01.2021 às 16h04
Um início de ano difícil para a Cultura, visto com preocupação – mas também em jeito de desabafo – por artistas como Carolina Deslandes, Diogo Piçarra, Gisela João, Sónia Tavares (Gift) ou Hélio Morais (Linda Martini)
O desabafo é de Carolina Deslandes: "Sinto que 2021 é pedir um vestido de cauda pela net e chegar uma peúga usada e rota, três números acima", escreveu a artista nas redes sociais, reagindo ao mais restritivo estado de emergência desde o confinamento de março e abril de 2020. A partir desta sexta-feira dá-se novo encerramento dos equipamentos culturais, por um período que o Primeiro-Ministro António Costa deu a entender que não será inferior a 30 dias.
As reações dos músicos à agenda vazia nas próximas semanas não se fizeram esperar. Hélio Morais, músico dos Linda Martini e PAUS, volta a adiar a edição do seu primeiro álbum a solo. "Estou cansado, desiludido com muita coisa à minha volta, com a forma como a cultura continua, depois de um ano à míngua, a ser menosprezada. Não questiono confinamentos, mas questiono discriminação e falta de apoios de quem nos deve amparar", escreve o músico, que promete contudo apresentar uma nova canção esta sexta-feira.
Diogo Piçarra fala em "mais uma travessia no deserto", apontando "falta de debate, discussão e sensibilidade por parte do ministério". "Pedimos as mesmas excepções possíveis e executáveis como acontece para a restauração e o comércio. Nem que seja 5% de abertura, já é uma luz ao fundo deste túnel infinito para muitos que vivem na escuridão", conclui.
Sónia Tavares partilhou um post da radialista Inês Meneses, em que esta afirma que sempre se sentiu segura nos espetáculos a que assistiu nos últimos meses. Há dois dias, a voz dos Gift, escrevia, de forma resignada: “se for para dizer já 'até para o ano, à mesma hora', avisem-me, que eu poupo-me a umas quantas preocupações e recomeço os preparativos para nova hibernação”.
Gisela João partilhou o quadro oficial das medidas de controlo da pandemia em vigor a partir de dia 15, apelando a que o que nele consta seja encarado com seriedade. "É isto, por agora. Gostava que fosse lido com tom grave porque isto é muito, muito sério, e não é para ser tratado como quem está a dar a meteorologia".
Segundo Fernando Ribeiro, dos Moonspell, "a maioria dos músicos, das pessoas da cultura fizeram muito mais por Portugal do que a maioria dos políticos e dos religiosos", aparentemente numa alusão ao não encerramento de igrejas e dos espaços consagrados à atividade política, ao contrário do que sucede com equipamentos culturais.
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