
Pedro Abrunhosa
Pedro Abrunhosa: “[No setor dos espetáculos] há trabalhadores que neste momento têm fome”
16.11.2020 às 13h06
“A Cultura esteve solidária nos incêndios de Pedrógão e neste momento precisa de uma atenção impactante”, alerta Pedro Abrunhosa
Pedro Abrunhosa sugeriu algumas propostas para ajudar o setor da Cultura, a braços com uma grave crise causada pela pandemia de covid-19.
Num debate realizado na TVI, no qual participou também Álvaro Covões, Pedro Abrunhosa afirmou: “A Cultura, e sobretudo a área do espetáculo, parou a sua atividade a 100%. Estamos impedidos de realizar espetáculos, não no sentido formal, mas não podemos fazer espetáculos de manhã, correndo o risco de não termos público”, disse, referindo-se às novas normas em vigor em virtude do estado de emergência.
Lembrando que as indústrias culturais e do espetáculo vivem “de aglutinar multidões”, Pedro Abrunhosa conclui: “Com isso afetamos cerca de 135 mil trabalhadores, alguns dos quais são autores, como é o meu caso. Mas a esmagadora maioria, os técnicos, assistentes de palco... há uma miríade de trabalhadores independentes, sazonais, informais, que neste momento têm fome”, alerta. “A Cultura esteve solidária nos incêndios de Pedrógão e foi a primeira a colocar-se ao dispor para acudir às populações. Neste momento, a Cultura também precisa de uma atenção, com força, impactante”.
Na mesma entrevista, Pedro Abrunhosa defende uma maior dotação do Orçamento de Estado para a Cultura e a tributação de empresas como o Google, a Apple, o Facebook e a Amazon.
“Desafio qualquer português em confinamento a sobreviver sem recorrer ao telemóvel, à televisão, à rádio, à música, ao cinema. Os GAFA - Google, Apple, Facebook e Amazon - têm de ser tributados, [beneficiando] quem lá coloca conteúdos: os músicos, autores, artistas, atores, realizadores, produtores, técnicos”, concretiza o portuense, para quem essas empresas deveriam ser tributadas em 3%.
Pedro Abrunhosa lamenta ainda que a “bazuca” de ajuda à economia nacional seja “omissa” na área da cultura, propondo que 2% desses fundos sejam alocados à cultura.
No mesmo debate, Álvaro Covões, diretor da promotora Everything Is New, sublinhou que há “uma tipologia” de espetáculos, como “festivais e grandes concertos, que deixou de poder existir. Ficámos reduzidos a uma ínfima parte do que podemos fazer, e ainda assim com muitas dificuldades. As quebras na nossa área de negócio são superiores a 87%. Uma quebra de 87% de janeiro a outubro significa desemprego, miséria, falência de empresas. Como o Pedro [Abrunhosa] disse, a cultura é um dos pilares basilares da democracia e neste momento o que está em causa é o que queremos para o futuro de Portugal. Podemos querer ter um país sem cultura - esse é o caminho que estamos a desenhar neste momento”.
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