
Patti Smith em julho de 2019
Steven Sebring
Patti Smith começou a escrevê-lo antes da pandemia, mas este livro está cheio de presságios
08.08.2020 às 8h50
Sonho e realidade, medo e imaginação misturam-se em “O Ano do Macaco”, caderno de viagens e meditações que passa por Lisboa. Leitura obrigatória para este verão
É o último dia, ou a última noite, de 2015, e Patti Smith, que em 2016 completa 70 primaveras, dá entrada num pequeno hotel em Santa Cruz, na Califórnia. Acaba de dar uma série de concertos no famoso Fillmore Auditorium, em São Francisco, mas é sozinha que dispõe os seus parcos pertences no quarto do Dream Motel e é no mais perfeito anonimato que, nos dias seguintes, irá deambular pela costa californiana, rica em leões marinhos e personagens caricatas, que entram e entram de cena à velocidade do pensamento — onírico e místico mas também lógico — da narradora.
Viagens à boleia, pequenos-almoços em cafés à beira-mar e conversas e meditações sobre literatura, história e religião preenchem os dias de uma das mais veneradas figuras do rock do século XX que, se alguma vez é reconhecida por aqueles com quem se cruza nos seus passeios erráticos, não faz menção do sucedido nos blocos de notas que depois verterá em livro. “O Ano do Macaco”, novo livro da autora de “Just Kids”, é uma obra de profunda solidão e, ao mesmo tempo, de procura de sentido e ligação, quer com o mundo que tenta abarcar e compreender quer consigo mesma. Fred “Sonic” Smith, o marido, morreu há mais de 20 anos, mas debaixo da sua cama, no apartamento em Nova Iorque, Patti Smith ainda guarda o vestido com que, em 1980, casou com o guitarrista dos MC5.