
Stephen Maturen
Hoje há 'blackout' na música. O que é que isso significa?
02.06.2020 às 11h25
Artistas, editoras, serviços de streaming e outros agentes da indústria musical unem-se contra o racismo e juntam a sua voz às manifestações que decorrem nos Estados Unidos depois da morte de George Floyd às mãos da polícia
Esta terça-feira, 2 de junho, a indústria musical norte-americana decretou um dia de 'blackout' num ato de união contra o racismo. Artistas, editoras e até serviços de streaming juntam, assim, a sua voz às de milhões de americanos que se manifestam um pouco por todo o país na sequência da morte de George Floyd, homem afro-americano, às mãos da polícia de Minneapolis.
A iniciativa chama-se #TheShowMustBePaused (algo como "o espetáculo tem de ser interrompido"), mas não chega sem um pouco de polémica. Apesar de a grande maioria se ter associado, há quem receba este 'blackout' com alguma dose de ceticismo, defendendo que a iniciativa não fará com que as coisas mudem e que a indústria deveria juntar-se aos protestos nas ruas.
As primeiras diretrizes surgiram na semana passada, com as organizadoras do movimento, Jamila Thomas da editora Atlantic e Brianna Agyemang da empresa de novos talentos Platoon, a exigirem ao setor cultural que tomasse uma atitude "urgente" no sentido de contribuir para a "mudança" que se impõe.
"É uma iniciativa criada por duas mulheres negras que integram a indústria musical e observam o racismo e a desigualdade que existem, há muito tempo, da sala de reuniões às ruas", escrevem no manifesto, "não vamos continuar a conduzir negócios sem termos em conta as vidas dos negros".
Esclarecendo que a iniciativa não morrerá depois de hoje, Thomas e Agyemang endurecem o discurso: "a indústria musical movimenta largos milhares de milhões de dólares e lucra bastante com a arte feita por negros. A nossa missão é responsabilizar as grandes empresas, e seus parceiros, que beneficiam com o esforço, a luta e o sucesso de artistas negros. É obrigação de todos proteger e dar força às comunidades negras que os tornam desproporcionalmente ricos".
"Não queremos sentar-nos nas vossas reuniões por Zoom a falar dos artistas negros que vos estão a dar tanto dinheiro se vocês depois não falam sobre o que se passa com a comunidade negra neste momento", lê-se ainda na declaração de intenções, "é isso que queremos discutir. E não apenas no departamento de 'música urbana'".
Editoras multinacionais, como a Sony, a Warner Music ou a Interscope declararam que iam apoiar a iniciativa "desligando do trabalho" e conectando-se com a comunidade, anunciando doações de dinheiro e afirmando que este seria um dia de reflexão.
E os ecos sentem-se por todo o mundo: também em Portugal, as extensões dessas editoras se juntaram ao protesto, partilhando um quadrado negro nas redes sociais oficiais. Spotify e Apple Music decidiram igualmente juntar-se à iniciativa, com o primeiro a acrescentar faixas silenciosas a playlists e o segundo a "calar" alguns dos seus podcasts.
Músicos como Billie Eilish, Radiohead, Quincy Jones ou Massive Attack, e a editora de Jack White, a Third Man Records, juntaram as suas vozes ao movimento, mas houve quem, como Justin Vernon (Bon Iver), tenha encarado a ideia com ceticismo: "não estou a atacar ninguém pessoalmente, adoro-vos a todos, mas esta pausa da indústria musical parece-me uma coisa alheada da realidade".
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