
Centro Cultural de Belém, Lisboa
Rita Carmo
Público com máscaras, mais controlo e mais limpeza. Poderão ser assim os concertos em Portugal a partir de 1 de junho
12.05.2020 às 11h35
São 16 páginas que os promotores de espetáculos vão entregar ao Governo para garantir a segurança no planeado regresso aos concertos em junho. Um manual de boas práticas onde se começa a jogar o futuro do setor em Portugal em tempos de pandemia. “Vamos chorar e vamos rir de máscara”, afirma a presidente da APEFE
À medida que a indústria da música ao vivo se reorganiza, no contexto de pandemia de covid-19, começam a surgir as primeiras medidas concretas em Portugal. Esta semana, será discutida na Assembleia da República a proposta de lei do Governo, tendo em vista a regulamentação dos eventos de grande escala, como festivais de verão (que, tudo o indica, ficarão genericamente proibidos até 30 de setembro, ainda que podendo ser observadas algumas nuances). Quanto aos concertos em sala fechada, poderão regressar a 1 de junho, com novas regras e normas de segurança.
À BLITZ, Sandra Faria, presidente da APEFE (Associação de Promotores, Espetáculos, Festivais e Eventos) falou sobre o manual de boas práticas a entregar ao Governo, com vista à realização de espetáculos a partir de junho, documento que Álvaro Covões (Everything Is New), também membro da direção da associação, relevou na passada semana estar a ser delineado.
Explicando que a APEFE se encontra a trabalhar com o Ministério da Cultura, a Direção-Geral de Saúde e o IGAC (Inspeção-Geral das Atividades Culturais), a também diretora-geral da produtora de espetáculos Força de Produção (responsável pelo agenciamento de artistas como o humorista Bruno Nogueira ou a banda Clã, e concessionária do Teatro Maria Matos, em Lisboa) revelou que o manual de boas práticas para a abertura de salas e recintos tem um total de 16 páginas, sendo nelas plasmadas as soluções propostas pelo setor.
Quanto à possibilidade de os concertos se passarem a realizar com lotação reduzida, Sandra Faria diz não saber a percentagem de bilhetes a vender que o Governo aprovará. Porém, garante que, em reunião com a Ministra da Cultura, Graça Fonseca, os membros da APEFE já alertaram que esta medida poderá funcionar em equipamentos públicos, que não vivem da receita de bilheteira, mas não com os espetáculos de promotores privados.
"Mesmo antes da ordem de proibição de concertos, em março, várias salas, como o Teatro Villaret, já tinham implementado várias regras", revela a responsável por aquela sala. "Higienização de mãos, maçanetas e cadeiras. Agora que temos mais informação, fizemos um manual mais completo". "Mais controlo e mais limpeza" são duas das orientações deste manual, preparado com uma empresa certificada.
Sobre o concerto "experiência" que a Live Nation vai organizar este mês nos Estados Unidos, com lotação reduzida a um quinto da sala e medidas muito apertadas de higiene, Sandra Faria comenta: "Se calhar, durante algum tempo, vamos ter de assistir a concertos de máscara. Vamos chorar, vamos rir de máscara". "Somos muito criativos e flexíveis a adaptar-nos às situações", acredita a presidente da AFEPE, mostrando-se confiante na capacidade de trabalho e de reinvenção do setor.
"As telenovelas também já voltaram a ser filmadas", diz, à laia de exemplo, falando da vontade de músicos - mas também de outros profissionais do mundo do espetáculo, como atores e bailarinos - de regressar ao trabalho. "As pessoas estão ansiosas por voltarem a trabalhar e por se adaptarem", afirma Sandra Faria, sublinhando que o manual de boas práticas se destina a criar as condições de segurança necessárias para que artistas, técnicos e espectadores possam e queiram voltar às salas de espetáculos sem medo.
Apesar da instabilidade causada pela evolução da pandemia, que impossibilita a determinação de prazos concretos, Sandra Faria afirma que os membros da APEFE estão "a trabalhar para reabrir [espetáculos] em junho".
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