
Legendary Tigerman
Rita Carmo
The Legendary Tigerman: “Se precisar de parar dois meses posso fazê-lo, mas há músicos e atores que não conseguem pagar a renda”
14.03.2020 às 10h00
Paulo Furtado, o homem por trás de Legendary Tigerman, tem vários concertos e uma peça de teatro adiados devido ao Covid-19
Paulo Furtado, mais conhecido no universo musical como The Legendary Tigerman, disse à BLITZ estar a reagir a nível pessoal ao impacto da pandemia do novo coronavírus como "todas as pessoas de todas as profissões". "Acho que há aqui um momento em que se têm de pôr de parte os problemas pessoais inerentes a cada profissão", começou por dizer, "ao mesmo tempo, acho que se deve alertar o governo para as particularidades de cada profissão, não é?".
"Os restaurantes estão a ficar vazios e à beira da falência. Os bares a mesma coisa... Os músicos não têm concertos... Acho que é preciso encontrar soluções para todas essas questões, nem que seja compensar um bocadinho toda a gente em vez de tentarmos compensar mais estes ou aqueles", continua o músico. "Mas acho que, fundamentalmente, temos todos que parar e pensar uns nos outros e nas pessoas que estão mais frágeis. Todos temos avós, todos temos pais e todos temos tios que, provavelmente, estão na faixa etária que pode ser mais afetada".
Quanto à forma como a pandemia o está a afetar pessoalmente, Furtado explica: "o meu panorama é ter andado três meses a trabalhar [na música] para uma peça de teatro que não sei se vai acontecer ["Estro/Watts. Poesia da Idade do Rock", cuja estreia estava programada para o Rivoli, no Porto, nos dias 20 e 21 de março, mas foi adiada], é ter os concertos de abril desmarcados e provavelmente os de maio também vão começar a ser desmarcados... É ter uma digressão europeia que ia acontecer em outubro mas que como estão a remarcar os concertos que iam acontecer agora para essa altura vou ter que a desmarcar também".
"Eu ainda assim tenho capacidade para poder fazê-lo se precisar de estar parado dois meses. E depois lido com os problemas daqui para a frente. Mas sei que há muitos músicos e muitos atores e muitas pessoas ligadas à cultura que vivem numa grande precariedade e que neste momento, provavelmente, por causa de todas as coisas que foram canceladas, nem têm dinheiro para pagar a renda de casa do próximo mês. E isso sim é preocupante, e isso sim é também transversal a todas as profissões. Acho que é momento de encontrarmos, também, soluções coletivas para as pessoas que estão mais fragilizadas a todos os níveis".
Apesar de o panorama ser, no geral, "bastante negro", Furtado defende que "o fundamental é tentarmos manter a calma, tentarmos proteger-nos e proteger os outros. Ir lidando de uma maneira responsável mas, ao mesmo tempo, tranquila com esta situação toda, da qual desconhecemos ainda muita coisa".
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