










Neneh Cherry nunca se foi embora. O NOS Primavera Sound reencontrou-a sã e salva
09.06.2019 às 1h56
Cantora sueca, uma das vozes mais maviosas dos anos 80 e 90, mostrou que está bem viva e deu no Porto um concerto com muita alma
Às vezes esquecemo-nos de Neneh Cherry, mas ela nunca se foi embora. Aos 55 anos, a cantora sueca parece conhecer um segundo fôlego numa carreira que, há poucos anos, aparentava estar estagnada.
Ativa na música desde tenra idade (é enteada do músico de jazz norte-americano Don Cherry, a quem pediu o apelido), Neneh Cherry partilhou o ambiente punk com as Slits, foi DJ de rap e gravou o primeiro single aos 18 anos, em 1982, desde logo com uma canção de protesto - 'Stop the War', sobre a guerra das Malvinas. No final dos anos 80 lançou o álbum "Raw Like Sushi", irrompendo com firmeza nos tops com 'Manchild' e 'Buffalo Stance' - Cherry acertou, definitivamente, à primeira. A sua voz doce e açucarada contrastava com a força das suas posições; a política nunca esteve longe da sua lírica.
"Homebrew", em 1992, prolongou o estado de fulgor, adicionando a uma base dance-pop o rap e o trip-hop (colaborara, um ano antes, em "Blue Lines", dos Massive Attack). Quatro anos depois, com "Man", galgou tops globais com '7 Seconds', dueto com Youssou N'Dour, e 'Woman'. Depois desmultiplicou-se em colaborações mas desapareceu enquanto artista com discografia ativa, voltando apenas em 2014 a gravar um longa-duração.
No palco mais 'selvagem' do NOS Primavera Sound, durante anos curado pela All Tomorrow's Parties e agora com 'naming' da Pull & Bear, Neneh Cherry tocou boa parte destes êxitos antigos, mas num novo enquadramento: uma banda onde DJ, bases de laptop, teclados, percussão ao vivo e harpa concorrem para a criação de ambientes hipnóticos, sem descurar uma força 'tribal' - Cherry, de branco vestida e com colares ao pescoço, é uma espécie de chefe de tribo, dançando empenhadamente sem perder de vista o que realmente a motiva, a urgência de comunicar.
Em 'Deep Vein Thrombosis', de "Broken Politics" (o último álbum, editado no ano passado) há uma percussão envolvente, espécie de transe tropical; em 'Blank Project' a dança, breve, é crua; em 'Synchronised Devotion' há um adorável pano de fundo infantil conferido pelo xilofone ("My name is Neneh / March tenth / What a sign"). E há rap ácido, funk 'partido' (como a política) e uma 'Buffalo Stance' excitante que termina com o que Cherry denomina de "o meu mantra para hoje": "No moneyman can win my love". Soube ganhar o público que lhe concedeu numerosos aplausos.
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