










James Blake no NOS Primavera Sound: quem tem esta voz tem quase tudo
08.06.2019 às 3h58
Fim de segunda noite de festival suave e aveludado com o inglês a mostrar que não é preciso grandes malabarismos para mandar o povo satisfeito para casa
Nascido há 30 anos em Londres, James Blake Litherland é um cavalheiro 'soft spoken' e um músico atento ao detalhe, minucioso artífice de laboratório com o raro talento de conseguir, fora dele, um impacto generoso.
Quatro anos depois de um concerto no NOS Alive e seis sobre a primeira passagem por este mesmo palco (igualmente num fim de noite para descomprimir de outras emoções), o músico e produtor inglês chega com quatro álbuns, o último dos quais representando um abalo no seu percurso de acalmia e tons sombrios - foi com ele, nomeadamente através de 'Don't Miss It', o seu primeiro single, que terminou uma atuação onde o maior trunfo, novamente, voltou a ser a sua capacidade interpretativa. Mais do que o esqueleto musical - por vezes literalmente esquelético, suportado por parca percussão e economia de eletrónicas. Mais do que o virtuosismo lírico, bastante monótono na sua temática de coração partido, relações desencontradas e vontade de fazer melhor.
Mas se o que canta é, grosso modo, domínio do cliché romântico, a forma como canta é - lembrando o R&B feminino mais estóico - capaz de aditivar canções relativamente esparsas. Isto é, torná-las melhores. Lembramo-nos amiúde da solenidade de Antony Hegarty ou até Benjamin Clementine.
Começando mansinho, com 'Assume Form', 'Life Round Here' e 'Mile High' - Blake atrás do teclado, ao nosso lado direito, bateria a meio, restante instrumentação e maquinaria (a cargo de um homem só) à esquerda -, a oscilação de temperaturas não é flagrantemente grande: umas vezes Blake toma as rédeas do microfone, à frente, noutras regressa ao conforto do seu teclado. A sua maior virtude, a voz, realça-se quando tudo o resto, praticamente, se cala - como em 'Are You In Love?', voz límpida e guitarra em suaves pinceladas numa relação nada complicada.
Por vezes, Blake soa-nos a uma espécie de 'balladry' 50s teletransportada para um futuro noutro planeta ('Can't Believe the Way We Flow', 'Loathe to Roam' e, sobretudo, 'I'll Come Too') e canta-nos ao ouvido sem nos aborrecer. Noutras, o falsete é demasiado histriónico para ser dor de verdade. Desconfiar das intenções de James Blake é desejar que ele se torne melhor. Esta voz é capaz de nos ouvir.
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