













Em honra dos velhos tempos, Interpol recordam os clássicos no NOS Primavera Sound
08.06.2019 às 3h26
Concerto seguro da banda norte-americana, num palco mais pequeno do que aquele em que atuou há quatro anos. A sucessão de clássicos dos anos 00 foi aposta ganha
Em 2015, neste mesmo festival, vimos uns Interpol desmaiados, demasiado perdidos no espaço vasto do palco principal do NOS Primavera Sound, com um público também maioritariamente 'desligado'.
É certo que a banda de Paul Banks que, nos anos 00, brilhou no pós-punk espinhoso mas emocional (álbuns como "Turn On The Bright Lights" e "Antics" continuam bem cotados) não é propriamente composta por 'animais de palco' ou 'crowd pleasers' natos. Esta é uma banda sem 'mestre de cerimónias', em que o vocalista cumpre estritamente dois papéis: canta e toca guitarra. Gostar de um concerto de Interpol é gostar das canções, que invariavelmente surgem umas atrás das outras num registo muito fiel à matriz e sem uma cadência, uma narrativa, uma progressão dramática que culmine em pontos de clímax. Pelo contrário, os êxitos maiores são distribuídos ao longo do alinhamento, como tarefas contratualizadas e desempenhadas com competência.
Desta vez, contudo, os Interpol tiveram o público do seu lado, e isso deve-se, sobretudo, a uma adequação do espaço onde tocaram à atual dimensão da banda e - porque não dizê-lo - à constatação de que é em espaços menos vastos, mais compactos, menos frios, que o grupo se sai melhor. Por outras palavras, é junto dos seus que os Interpol mais perto se encontram de dar um bom concerto.
E é de um bom concerto que falamos, com muito de passado e pouco de presente. A melhor canção de "Marauder", de 2018, entra no início: chama-se 'If You Really Love Nothing' e ombreia com as melhores. Ouviremos outra. 'The Rover', menos inspirada, e o tema título do recentíssimo EP "A Fine Mess", que melhor não faz do que ser fiel ao título.
Falemos das coisas boas: um começo em grande estilo com 'C'mere'. Mais adiante, 'PDA' mostra o nervo vital dos Interpol do início - o estatuto de grande canção não sofre delapidação. 'Evil' e 'Take You In a Cruise' entram a meio, provocando reações entusiásticas, especialmente nas primeiras filas de devotos (de várias nacionalidades). Boas memórias de quando os Interpol conseguiam ser a representação no século XXI do rock tormentoso dos Sound, de Adrian Borland.
'All the Rage Back Home' lembra-nos que "El Pintor", de 2014, conseguiu colocar uma canção no cânone do grupo. Os floreados de Daniel Kessler em 'Rest My Chemistry' apontam para um ainda bem-sucedido "Our Love to Admire", de 2007, um disco que deixou de fora deste alinhamento 'The Heinrich Maneuver' e a excitante 'Pioneer to the Falls' (que pena).
Na reta final, duas escolhas que não podiam falhar: 'Slow Hands' e 'Obstacle 1', provavelmente as duas canções que mais puxaram por um público que - não obstante uma certa frieza da banda - nunca deixou de estar do seu lado. Basta gostar das canções: esteve aqui uma banda que veio para tocá-las.
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