






















Do embate entre a tradição e a modernidade nasceu Rosalía. E a explosão aconteceu no NOS Primavera Sound
09.06.2019 às 0h04
Concerto bombástico da artista barcelonense, algures entre uma casa de flamenco e a euforia dos grandes palcos, atraiu a maior enchente das três noites
A expectativa era mais do que muita e quem acorreu ao NOS Primavera Sound neste último dia para assistir à atuação de Rosalía, o novo fenómeno da música com carimbo espanhol, não saiu defraudado. Com um alinhamento consistente e uma postura bem mais tradicional em palco do que em disco, a artista de Barcelona apaixonou os largos milhares de admiradores com a sua releitura moderna de um fenómeno chamado flamenco, que atravessa os últimos três séculos.
Acompanhada por El Guincho, o homem que ajudou a transformar o álbum "El Mal Querer" num sucesso que extravasou as fronteiras espanholas, e secundada por um coro e um corpo de bailarinas com a lição bem estudada, Rosalía viu-se a braços com uma verdadeira enchente. Mantendo a multidão consigo durante uma hora de atuação, a artista de apenas 25 anos arrancou com 'Pienso En Tu Mirá', sendo automaticamente brindada com um coro afinado. As eletrónicas que ajudam a elevar a tradição até às estrelas emulam as tradicionais palmas do flamenco e estiveram sempre lá para apoiar uma voz cheia de garra, rendilhados e sentimento.
Entre ritmos tropicais (pensamos, nomeadamente, em 'Brillo' e 'Con Altura' - bem mais consistente e infecciosa em palco do que em gravação -, ambas gravadas com o colombiano J Balvin, foram apresentadas em momentos diferentes do concerto), as influências trip-hop belíssimas de 'Barefoot in the Park' (que já ontem se tinha feito ouvir naquele palco na voz da outra metade do dueto, James Blake), a intimidade de 'A Ningún Hombre' e o minimalismo de 'Catalina', dedicado a todos os que ouviram "Los Ángeles", o primeiro álbum, Rosalía foi adensando uma atuação que roçou a perfeição.
Os momentos mais celebrados da noite, claro, foram as canções mais orelhudas, que servem uma pop futurista e fresca: 'De Aquí No Sales' e o seu motor ronronante, a misteriosa incursão pelo hip-hop de 'Di Mi Nombre', uma maravilhosa 'Bagdad' e a bombástica sequência final, composta pelo frenético novo single 'Aute Cuture' e 'Malamente', a canção que lhe abriu as portas do mundo, com coreografia pensada ao milímetro.
"Porto, estou muito agradecida por estar aqui. De coração", disse num português bem pronunciado, "gostava de saber falar português, quero voltar aqui muitas vezes para aprender esta língua tão bonita". Depois do concertão desta noite, parece-nos óbvio que regressará "muitas vezes". Muitos "olés" para retribuir o abraço caloroso que a fez atirar-se nas mãos de um público que acabou de coroar uma nova rainha.
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