













O rock and roll de Courtney Barnett no NOS Primavera Sound: bendito o dia em que as mulheres tomaram conta disto
07.06.2019 às 21h32
O rock afinal não morreu; escapou ao juízo final por intervenção providencial de mulheres como Courtney Barnett, que o revitalizaram com uma nova atitude, um propósito definido e ausência de bolas de naftalina. No festival do Porto houve esta sexta-feira rock and roll que respira saúde, graças a uma australiana que domina esta velha arte na perfeição
Com felicidade viveu a humanidade tempo suficiente para ver o rock and roll, defunto em quase todas as sedes e assassinado por homens de barba rija, ganhar nova vida nas mãos das mulheres. Courtney Barnett, australiana de 31 anos, deixou a sua marca num festival onde a velha - e, tantas vezes, obsoleta - arte elétrica se desvanece.
De guitarra(s) elétrica(s) a tiracolo, na companhia de uma banda preparada para o ofício, serviu à multidão um rock bem disposto, recheado de riffs soalheiros - umas vezes mais musculados, outras mais torneados -, solos sorridentes e, acima de tudo isto, histórias que nenhum homem seria, hoje, capaz de contar.
As comparações com Kurt Vile são fáceis: mas Courtney Bartnett é melhor; tem solos com a medida certa, uma energia muito mais viva, menos soporífera, mais ligada à realidade - uma realidade que versa, com humor e ironia por vezes autodepreciativa, como quem voa, trocista, sobre a contrariedade.
É rock de cabelo comprido, obviamente encapsulando pistas abertas naqueles anos 90 indie que reverenciavam - de esguelha - os 70s dos clubes rock americanos. Por cima de uma aparente mesmidade, brotam canções borbulhantes como 'Avant Gardener', 'City Looks Pretty' ou 'Elevator Operator'. O concerto termina com fervor e o público completamente na mão, aos saltos, como se estivesse a ver os Nirvana em 1992. No último concerto antes da partida para uma digressão americana, Barnett despede-se com o seu charme casual, desprendido, nada maneirista: "dêem notícias, mandem cartas". Era o que deveríamos fazer amanhã.
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