











Os Beach House mergulharam, novamente, Lisboa na penumbra. Mas será que a magia continua a mesma?
26.09.2018 às 3h01
Victoria Legrand e Alex Scally continuam a alimentar uma bonita história de amor com o público português, que esta noite não lotou o Coliseu dos Recreios mas recebeu as canções do novo “7” de braços bem abertos
Abrindo com ‘Levitation’ aquele que foi o seu enésimo espetáculo em território português na última década - primeiro da corrente digressão europeia -, os norte-americanos Beach House rapidamente deixaram claro que pouco ou nada mudou nos seus espetáculos desde que os vimos pela última vez: continuam a querer levar-nos numa viagem sensorial, arrancar-nos da realidade e deixar-nos mergulhados na penumbra para melhor absorvemos os estímulos auditivos. Nada contra, muito a favor até, mas se não fossem as belíssimas canções do novo álbum, “7”, pouco ou nada diferenciaria o concerto desta noite no Coliseu dos Recreios daquele primeiro a que assistimos, já lá vão uns bons 9 anos, no Tivoli.
Sempre em contra-luz, com as silhuetas de Victoria Legrand e Alex Scally recortadas num pano de fundo que foi alternando entre cores e pontinhos assemelhados a estrelas, os músicos de Baltimore construíram uma história com os pés bem assentes no presente, puxando sabiamente pela força de canções tão entusiasmantes quanto ‘Dark Spring’, a fantasmagórica ‘L’Inconnue’ (um dos momentos mais certeiros de “7”, belíssimamente traduzido para palco) ou ‘Black Car’, com os seus sintetizadores enigmáticos. As pontuais incursões ao passado (especialmente ao passado mais recente) foram-se misturando com os novos temas, com ‘PPP’, ‘Space Song’ mais as suas guitarras serpenteantes e ’10 Mile Stereo’, com as suas ocasionais explosões, a deixaram ao rubro o público que compôs bem a sala lisboeta mas a deixou longe de lotada.
Deixando a música queimar em lume brando e a voz de Legrand muitas vezes imperceptível de tão mergulhada em reverbs, os Beach House não deixaram de nos fazer sentir bem embalados pelas suas melodias oníricas. Até atingirmos o transe coletivo, instigado por uma ‘Wishes’ que encerrou o alinhamento principal do concerto junto com a esquizofrenia instrumental de ‘Lemon Glow’, escutámos ainda, com prazer, uma tensa e hermética ‘Girl of the Year’ e ‘Drunk in L.A.’, hino que cruza a assertividade vocal de Legrand com teclados quase eclesiásticos. Depois de exclamar o quão excelente era “estar de volta a Lisboa”, a vocalista chamou à atenção para o calor que se fazia sentir no Coliseu: “não estamos demasiado quentes, estamos quentes o suficiente. Acham que devemos continuar ou encontrar a piscina mais próxima?”. Não podiam ser as duas opções?
Para o curto encore, ficou reservado um muito aplaudido regresso a ‘Myth’, uma das canções mais celebradas da discografia da banda, que trouxe consigo uma brisa de voz sereno-demoníaca, e a tensão de ‘Dive’, que elevou um gigantesco muro de som, com a bateria a bater nos níveis máximos, até ao desmoronar final. Houve ainda tempo, claro, para os agradecimentos (um, muito especial, a Sonic Boom, que produziu o álbum) e juras de amor eterno ao público português: “Lisboa, em particular, deu-nos um dos primeiros concertos em que nos sentimos verdadeiramente amados na Europa. Esse amor tem crescido ao longo dos anos e estamos muito agradecidos por estarmos onde estamos”.
Os riscos que os Beach House correram em “7”, dando largos passos ao lado num caminho que parecia seguir cegamente no sentido da estagnação, esbatem-se, de certa forma, em palco. Foi, pelo menos, isso que transpirou do concerto desta noite. E por muito confortável que seja para eles e para os fãs mais conservadores continuar a fazer e a assistir a espetáculos que pouco ou nada evoluem começa a tornar-se um pouco cansativo para quem só "pica o ponto" de quando em vez.
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