O melhor dos Xutos & Pontapés comentado por Zé Pedro
12.11.2017 às 9h00
Zé Pedro analisou em 2014, caso a caso, as 16 canções preferidas dos leitores da BLITZ no que a Xutos & Pontapés diz respeito. Ouça a playlist e leia os comentários do músico
1 «Remar Remar» 1984
«Remar Remar» é uma canção importante na história dos Xutos & Pontapés, porque surgiu num delicado período de transição, depois da saída de Francis e quando o grupo se encontrava sem editora. «O Tim», recorda Zé Pedro, «estava à espera do barco para ir para Almada quando lhe surgiu a ideia da letra». Sempre a sentirem-se puxados pelo futuro, os membros dos Xutos tomaram a decisão de avançar a direito, mesmo sem estrutura por trás. Gravaram uma maqueta no estúdio dos Taxi, no Porto, onde além de «Remar Remar» se encontravam já versões iniciais para temas como «1º de Agosto» ou «Longa Se Torna a Espera», com o intuito de fixar material para uma edição de autor. Uma sessão de aconselhamento com António Sérgio levou-os até à nascente Fundação Atlântica, de Miguel Esteves Cardoso, Pedro Ayres Magalhães e Ricardo Camacho. O single de «Remar Remar» foi gravado no estúdio Angel I, em Lisboa, em maio de 1984, e produzido por Ricardo Camacho, que pouco depois haveria de integrar a Sétima Legião. Os Cool Hipnoise assinaram uma versão deste tema para a reedição de Missão Groove.
2 «Homem do Leme» 1985
Após a experiência com a Fundação Atlântica, os Xutos encontraram porto de abrigo na Dansa do Som, editora ligada ao Rock Rendez Vous. Foi aí que a banda gravou Cerco, com produção de Manuel Cardoso, dos Tantra. «Homem do Leme», tema afadistado em que João Cabeleira brilha, beneficiou da intensa rodagem ao vivo. «Mais do que uma onda, mais do que uma maré»... Os Xutos a cantarem sobre si mesmos.
3 «Sémen» 1981
A estreia discográfica ocorreu por mão de António Sérgio, na editora Rotação, em dezembro de 1981. «"Sémen" foi uma das primeiras músicas senão a primeira mesmo que o Tim apresentou à banda», esclarece Zé Pedro. Música de Tim e letra de Zé Leonel, vocalista original da banda (que voltaria a este tema por ocasião do vigésimo aniversário dos Xutos e da edição do álbum XX Anos, XX Bandas). O resultado final convenceu António Sérgio a puxar a canção para single, porque lhe encontrava uma batida muito «clashiana». A Rádio Renascença recusou passá-la.
4 «Circo de Feras» 1987
O tema que dá título ao terceiro álbum dos Xutos & Pontapés é servido por um dos mais reconhecíveis riffs do cancioneiro do grupo. «Foi uma música muito tocada ao vivo antes de ser gravada», explica Zé Pedro. O título surgiu «depois de uma noite de copos no Bairro Alto, no Gingão. Eu e o Tim estávamos a conversar e foi aí que surgiu a frase que depois escolhemos para título do álbum».
5 «Chuva Dissolvente» 1992
O maxi promocional de «Chuva Dissolvente», disponibilizado pela PolyGram a profissionais para promover o álbum Dizer Não de Vez, é hoje uma peça de coleção. Na altura, a banda vinha de uma grande crise, motivada pelo afastamento do manager, e procurava terminar o contrato que os ligava à PolyGram, onde já não se encontrava o «aliado» Tozé Brito. O disco foi gravado em Sintra e contou com produção de Kalu e Fernando Rascão.
6 «Sexo» 1985
Surge de um riff de Zé Pedro, juntando-se depois o resto da banda. Foi, por isso mesmo, uma criação coletiva. Servida por solos de guitarra e saxofone, foi sempre um favorito dos Xutos ao vivo. «E até pela temática é um tema apelativo», reforça Zé Pedro. No festival Portugal Ao Vivo, em 1993, contou com uma coreografia de strippers femininas.
7 «Viuvinha» 1982
Encravado a meio do alinhamento do álbum de estreia, 78/82, é um dos clássicos dos Xutos da «era Francis». Nesse tempo, tudo servia de inspiração para Tim, fosse o tempo que se perde a aguardar a chegada do cacilheiro ou um funeral, tendo esta última experiência inspirado a letra de «Viuvinha», história de uma mulher que «ficou viúva antes do altar».
8 «Gritos Mudos» 1990
Gritos Mudos, o álbum, surge «numa fase de grande turbilhão, em que a banda não vivia em harmonia», recorda Zé Pedro, que descreve a canção homónima como «um dos grandes temas de um disco com alguns problemas de consistência». A origem é ainda da fase pré-João Cabeleira e Zé Pedro acredita que chegou a ser maquetado no estúdio dos Taxi, no Porto.
9 «Esquadrão da Morte» 1984
Escrito na sequência das notícias em torno das FP25, «Esquadrão da Morte» surgiu na compilação Ao Vivo no Rock Rendez Vous em 1984 numa sequência com «1º de Agosto». «Também fizemos uma gravação num sound check que apareceria numa coletânea canadiana de tributo a Timor. Aí, esse tema aparece ao lado de coisas dos U2 ou Midnight Oil», revela o guitarrista.
10 «Contentores» 1987
Depois de muitas voltas com editoras, em 1987 os Xutos encontram finalmente na PolyGram a sua rampa de lançamento para um sucesso mais consistente. O álbum com que o fazem é Circo de Feras e, logo a abrir, vem o tema «Contentores», que principia com uma sequência eletrónica que o grupo diz ter sido inspirada no clássico dos A Flock of Seagulls, «I Ran».
11 «Há Qualquer Coisa» 2001
«Há qualquer coisa que se esconde em ti / Que me seduz e dá cabo de mim / E eu não sei, nunca sei bem o que é», canta Tim em «Há Qualquer Coisa», canção que tem uma espécie de chamada de resposta entre o vocalista e o resto da banda, o que lhe dá um tom festivo bem à medida das celebrações de palco.
12 «1º de Agosto» 1984
Hino de férias para uma geração, «1º de Agosto» é um tema que os Xutos nunca editaram em versão de estúdio, mas que aparece em vários registos ao vivo, a começar na compilação da Dansa do Som de 1984, no álbum 1º de Agosto no Rock Rendez Vous (gravado em 1986, mas só editado em 2000) e ainda no triplo álbum Ao Vivo, lançado em 1988. «É amanhã dia 1 de Agosto / E tudo em Mim é um fogo posto», cantava Tim.
13 «N'América» 1987
É outro dos temas que Circo de Feras ofereceu ao cancioneiro mais celebrado dos Xutos. Com letra de Zé Pedro, a canção é como o próprio confessa, «muito inspirada no sonho americano»: «o Kalu sonhava com ir para a América, tínhamos um amigo no início dos Xutos que foi e costumávamos falar nisso. O tema tem esse espírito, do "cá não se consegue nada e lá fora é que as coisas estão ao nosso alcance"».
14 «Esta Cidade» 1987
Conta com um poema de João Gentil, um poeta que Zé Pedro descreve como «maldito» e «underground». «Lembro-me de o ver a recitar os seus poemas ácidos com o [Jorge] Palma a acompanhá-lo à guitarra. Foi ele que sugeriu que eu lesse algumas coisas que ele escreveu e escolhesse um poema para os Xutos. O Tim adorou-o e tratou de fazer a canção». O arranjo é invulgar, mais atmosférico, deixando as palavras no centro da ação. Jorge Palma, juntamente com Flak, abordou essa canção no tributo aos Xutos XX Anos, XX Bandas.
15 «Submissão» 1989
É uma canção ao bom e velho espírito punk cuja origem remonta mesmo aos primeiros tempos dos Xutos. É outro daqueles clássicos dos Xutos que nunca teve espaço em álbum de originais: foi editado como lado B do single «Se Me Amas» e surgiu depois em vários registos ao vivo do grupo, o que reforça a ideia de que é um «emblema» de palco do grupo. O autor revela alguns factos sobre o tema: «pensei nesta canção numa viagem de autocarro e escrevi a letra muito rápido, seguindo um pouco a temática do "Mannish Boy", do Muddy Waters. O riff veio do "Submission", dos Sex Pistols», admite Zé Pedro. Esta canção liga-se ainda à primeira vez que os Xutos apareceram na televisão, num programa de António Duarte. «Submissão», por causa da sua temática de combatividade adolescente, fez ainda parte da peça «Inimigos» e foi incluída como um dos lados B do single «Tu Aí», editado precisamente por causa dessa peça de Nigel Williams encenada por José Wallenstein e levada à cena no Clube Estefânia em 1990.
16 «Conta-Me Histórias» 1985
Outro dos veículos do saxofone de Gui, «Conta-me Histórias» surgiu pela primeira vez no álbum Cerco onde antecipa no alinhamento a entrada de «Sexo». Zé Pedro descreve «Conta-me Histórias» como «uma grande música de amor»: «não sei onde o Tim se inspirou para fazer esta letra. No nosso período punk rock, esta era a nossa balada de amor. Tinha um tom meio bluesy». É a canção que abre o duplo CD de homenagem aos Xutos XX Anos, XX Bandas, numa versão dos Clã.
Depoimento recolhido por Rui Miguel Abreu. Originalmente publicado na BLITZ de março de 2014
Nota: "Viuvinha" não consta do catálogo do Spotify, por isso não pôde ser incluída na playlist.
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